A vontade de Deus em nossa vida nem sempre é aquilo que nos parece mais evidente. Algumas vezes, Deus nos pede justamente para irmos contra o que o senso comum determina. O problema é saber quando o que pensamos vem de nossa própria cabeça ou é a vontade de Deus.
Um personagem bíblico pode nos ajudar a pensar sobre esse assunto: Moisés. Depois de ter se desentendido com os egípcios, por causa da escravidão dos Hebreus, Moisés foge para Madiã onde refaz sua vida, forma uma família e se dedica a cuidar dela. Um dia, ele tem uma experiência que o transforma radicalmente: Deus pede que deixe sua nova casa e volte ao Egito para libertar o seu povo (Ex 3,1-12).
A decisão não foi fácil, pois tudo levava a crer que Deus havia poupado Moisés da morte prematura nas mãos dos egípcios: quando pequeno havia lhe tirado das águas do rio (Ex 2,1-10), depois lhe conduziu a Madiã para que escapasse da cólera dos egípcios e agora lhe pedia que voltasse para junto dos mesmos egípcios... Teria Deus poupado sua vida para depois sacrificá-la aos inimigos?
O discernimento de Moisés teve de levar em conta todos os sinais que Deus colocou em sua vida. Certamente, o melhor para sua segurança e felicidade parecia ser ficar cuidando das ovelhas de seu sogro. Todavia, teria Deus lhe ajudado tanto para que ele apenas desfrutasse dessa ajuda? Não estaria Deus lhe propondo algo maior?
Moisés entendeu que os sinais dados pelo Senhor em sua vida o levavam de volta ao Egito e a seu povo oprimido. Seria a decisão mais arriscada, mas depois da experiência da sarça ardente ele não podia mais duvidar.
Lendo o singelo relato do início do Êxodo, ficamos com a impressão de que tudo aconteceu muito rápido. Mas, certamente, a decisão de Moisés foi antecedida por uma análise espiritual de todos os sinais que Deus havia manifestado em sua vida. Isso o ajudou a ver mais claramente para onde esses sinais apontavam.
Também em nossa vida espiritual, devemos estar atentos aos sinais que aparecem. Pode ser que não sejam sinais tão exteriores, mas devemos prestar atenção aos sinais interiores, ou seja, nossos sentimentos diante das coisas. Moisés entendeu a frase do Senhor: "Eu ouvi o clamor de meu povo" (Ex 3,7). Moisés também já havia sentido esse clamor em seu coração. Seu sentimento entrou em sintonia com o sentimento de Deus.
Muitas vezes, também vemos uma situação que nos questiona e nos perguntamos o que Deus diria em uma situação dessas, pois o que pensamos que ele diria talvez seja o que ele esteja dizendo para nós. É preciso estar atentos a esses sentimentos e a outros sinais que Deus nos concede.
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